É estranho ás vezes sentir saudade da menina ingênua que morreu aos 30
É estranho sentir vergonha de como ela era e se portava
É estranho ver toda aquela magreza e rosto que só se via dentes
É estranho ver como ela se explicava e justificava.
É estranho sentir alegria e pena dela
É estranho saber que a vida dela iria mudar para sempre
É estranho que ela pensava que estava dando a volta por cima
É estranho saber que ela sorria para fotos e chorava escondida.
É estranho sentir também repulsa
É estranho saber que dentro dela também existia uma luta
É estranho como ela ajudava quem precisava de cura
É estranho saber que era ela quem precisava de ajuda.
É estranho tentar resgatar um pouco dela e não conseguir
É estranho não saber usar o lado bom que ela fazia sorrir
É estranho querer matar quem nasceu depois dela
É estranho lembrar que ela precisa esquecer ela.
É estranho sentir raiva de quem ela se tornou
É estranho saber que alguém a ama e ela se sente um horror
É estranho os quilos a mais e o rosto de bolacha
É estranho pensar que ela não entra mais naquela calça.
É estranho que ela pensa que estão rindo da cara dela
É estranho ver amigos falando nela
É estranho saber que nem tudo é do jeito que ela pensa
É estranho ela saber o motivo da mudança e não perder a cabeça.
É estranho que ela não se explica mais
É estranho que ela não dá mais sinais
É estranho que agora ela não é meiga
É estranho que muita das vezes ela se enfureça.
É estranho ela não gostar do que se tornou
É estranho ela entender o amor e a dor
É estranho ela correr de si mesma
É estranho ela ter no peito tantas certezas.
Brasil, 03 de abril de 2025.
Susanne de Andrade
Comentários
Postar um comentário